sábado, 27 de março de 2010

Relato do status imbecil [isso foi pleonasmo]

Estacionamento. Lá você vê pessoas entrando. Pares de marca de mãos dadas. Salto alto e tênis caro. Burgueses casais. Amor jovem, amor jovem de família. Família. Crianças, adultos, cidadãos de bem. Esteticamente bonitos, tatuagens como adorno, não exteriorizam nada interior aos seus poros. Se exteriorizam, exteriorizam uma vontade de ser olhado e comentado de modo esteticamente positivo: "Ah, que bonitinha!"
Andando pelos corredores, aquele barulho de muitas pessoas. Cheiro artificial. Perfume. Produtos, etiquetas. Mais casais, mais borboletinhas, mais flores bonitas na pele. Claridade, corpos esbeltos moldando roupas.
Loja de roupas. Araras cheias dos mesmos modelos e tecidos do último ano [seriam as cores que mudam? As vitrines me parecem tão iguais, mas eu sei que são diferentes, elas TÊM que ser diferentes.] No meio delas, acessórios. Acessórios comuns, de gente comum. De gente de bem. De gente sem graça, de peças mecânicas, peças que servem, que alimentam o modo de produção atual. APENAS PEÇAS. Peças felizes por estarem inseridas, pois é por estar inserida que ela aliena o fruto do esforço para comprar um pedaço de plástico, fruto da pobreza.
Uma peça bonita. Européia. Nela uma etiqueta. "importado", ela diz. Apenas "importado".
Mas, afinal, importado de onde?
Resposta: Quem é que liga? É importado. Veio do Norte, veio do Norte para servir o Sul subdesenvolvido. Então ter uma peça importada, é ser superior a essa classe subdesenvolvida. É ter contato com seres que falam uma língua mais bonita, mais popular. Detentores de beleza aceita [mentira, é imposta mesmo] por todos como a maior.
Importado? Importado! Veio de fora do país. Se não veio do Norte, veio de qualquer outro lugar. Um lugar que se comunica com você. Comunicação. A peça social quer comunicação. Ela implora por comunicação. Ela se afunda em contas para tocar outro lugar. Para se esquecer, por um segundo, da falta de significado que ela tem para a sociedade, para o seu país, para ela mesma.
Importado! Só não se sabe de onde, não importa de onde.

Um comentário:

Fael disse...

Desculpa, eu sei que te constrange eu ler seu blog, mas realmente você me surpreende a cada post. Parece que você pegou tudo que eu queria falar, mas não sabia expressar. Parabéns, pra mim o melhor até agora!

Beijo :D