domingo, 6 de junho de 2010

incenso fosse ópio...

Doce densa dura fumaça penetrante nos pulmões dos que frequentam agora o quarto de Eliane Pascoal.
Tudo parecia normal para aqueles que passaram pelas portas de entrada e saída do corpo, da alma e da história de Eliane Pascoal.
Agora, jaz o corpo. Lisos longos lascivos cabelos ensanguentados, pele clara, agora branca, que foi tocada, apertada e beijada por todos aqueles que sentiram, em seus pescoços, a respiração quente, úmida e apaixonada de Eliane Pascoal.
Ela vê agora, no corpo que a sua frente cresceu, se desenvolveu e morreu, imperceptíveis aos olhos alheios, profundas marcas deixadas nela e, reciprocamente por ela, a feição, molde e timbre de Eliane Pascoal.
Uma tumba em outra tumba agora seriam as aventuras compartilhadas apenas com quem não censuraria as atitudes de Eliane Pascoal.
Veias abertas, vestido transparente, manchado, não revelarão o coração intenso e apaixonado de Eliane Pascoal, nunca.
Motivos, manias, maravilhas de ser quem era, suja lúgebre paranóica, eram despertadas com sucesso entre as cotinas e a porta do quarto de Eliane Pascoal.
Doce, densa e dura fumaça era aquela que fazia arder os olhos já vermelhos fatigados e rancorosos da vida, da comum vida que pulsava por maior que mediocridade. A vida de Eliane pascoal.

--Alguém, por favor, sabe qual o motivo da morte de minha filha? Lhe imploro estranho, amigo, cúmplice do suicídio da frágil suave flor da vida de Eliane Pascoal!
--Ela abocanhou o medíocre, senhora, e sentiu falta. Ela procurou saída, senhora. E sentiu falta. Ela saiu do corpo, senhora, e abocanhou o quarto inteiro com seu sangue. Continuou a sentir falta. Mas eu acho que ela agora não sente falta. Sua água, respiração e timbre se espalham junto às moléculas do mundo, senhora. Assim, e só assim, ela encontraria o seu lugar.

Nenhum comentário: